Ditadura nunca Mais

Padrão

Fico abismado e perplexo de ver a reação de pessoas presumidamente bem informadas e politizadas diante da escalada da violência no Brasil.

Alguns lembram logo da pena de morte e da infeliz frase cunhada por um policial paulista, coronel Erasmo Dias, que foi comandante da famigerada rota, de que “bandido bom é bandido morto”, defendendo explicitamente a violência policial como a melhor solução.

Outros, inclusive oriundos da Academia, se revelam saudosos dos tempos da ditadura e defendem a volta dos militares ao poder, esquecidos de que durante a ditadura centenas de patriotas foram perseguidos impiedosamente, muitos torturados e assassinados nos porões dos DOI-CODI e nos quartéis.

Esquecem ou não sabem que durante a ditadura militar dezenas de escândalos foram registrados e abafados pela força das baionetas. Não se podia protestar contra nada, tinha que se engolir tudo calado. A censura atingia toda a imprensa , movimento cultural, estudantil, social e os sindicatos.

A tortura e a censura foram institucionalizadas, bem como a pena de morte e a prisão perpétua, que não atingiam os corruptos, mas os patriotas que lutavam contra o regime de exceção.

Cerca de 50 mil pessoas foram presas e mais de 20 mil torturadas durante a ditadura militar. É praticamente incontável o número dos que foram mortos ou obrigados a deixar o país e os que foram expulsos das universidades e dos seus empregos.

“Livrarias, bibliotecas e casas de intelectuais foram “visitadas”. Todos os livros que falassem sobre Comunismo, Socialismo ou Reforma Agrária eram apreendidos. Nessa época chegou-se ao cúmulo de se cometer estapafúrdios, como apreender livros sobre qualquer assunto pelo simples fato de se ter a capa vermelha ou nome de autores russos” (Wikpédia).

A polícia agia com violência contra estudantes e trabalhadores, nas cidades e no campo, enquanto a corrupção grassava em todo o país. O escândalo envolvendo a Caixa de Pecúlio dos Militares (Capemi), envolvida com a extração ilegal de madeira no Pará, é um caso emblemático.

Os desvios de recursos na construção da Ponte Rio-Niterói e na rodovia Transamazônica também são exemplos de que a corrupção não recebeu o combate devido durante a ditadura militar.

Não se pode esquecer do escândalo do Coroa-Brastel, que estourou em 1983, envolvendo o empresário Assis Paim e os ministros Delfim Neto, Golbery do Couto e Silva, Ernane Galveia e o presidente do Banco Central, Celso Langoni.

Os três ministros e o presidente do BC foram acusados de desviar recursos públicos na liberação de um empréstimo de Cr$ 2,5 bilhões da Caixa Econômica Federal para ampliações dos negócios do empresário. O caso foi julgado em 94 pelo STF e só o empresário foi condenado.

A professora Heloisa Maria Satarling, professora de História da Universidade Federal de Minas Gerais e co-autora de “Corrupção: ensaios e críticas (Editora da UFMG, 2008) diz que “o regime militar brasileiro fracasssou no combate à corrupção por uma razão simples – só há um remédio contra a corrupção: mais democracia.”

Há uma opinião quase unânime entre especialistas de que os altos índices de criminalidade em países como o Brasil tem raiz na desigualdade social. Países com altas taxas de concentração de renda são mais violentos e registram mais violação aos direitos humanos.

Esta foi a herança maldita do regime militar, que fez dos ricos desse país cada vez mais ricos e dos pobres cada vez mais miseráveis, consolidando uma sociedade injusta, excludente e violenta.

O combate a violência passa, portanto, pelo combate à desigualdade, à concentração de renda, à corrupção e a impunidade. Não é com uma polícia truculenta e atrabiliária que haveremos de combater a violência. Viva a democracia!

Um comentário sobre “Ditadura nunca Mais

Deixe um comentário